Platinossomíase, conhecida popularmente como envenenamento da lagartixa.
Agente Etiológico
O agente etiológico é o Platynosomum spp, que são trematodas, pertencentes a família Dicrocoeliidae. Não há consenso sobre a
espécie do gênero Platynosomum que
parasita gatos. Tanto o Platynosomum
fastosum, quanto o Platynosomum illiciens e Platynosomum concinnum já foram descritos na literatura como
parasitas das vias biliares de gatos domésticos. Por isso todas essas espécies podem
ser consideradas sinônimo (PAULA, 2010).
Morfologicamente, são parasitos ovóides ou elipsóides e achatados, chegando a no máximo 6,8 mm de comprimento.
Seus ovos são marrons, com casca espessa,
simétricos e operculados, medindo de 34
a 50 µm de tamanho.
Para falar sobre o ciclo de vida utilizaremos o Platynosomum fastosum como modelo. Precisa-se
de três hospedeiros intermediários: um caracol da terra (Subulina octona), um isópode terrestre (besouros ou percevejos) e por fim lagartixas ou sapos (SILVA et all, 2008).
Além disso, alguns hospedeiros erráticos como pássaros insetívoros podem
eventualmente participar do ciclo. É importante ressaltar que dependendo a
espécie de Platynosomum são necessários dois hospedeiros intermediários,
sendo um caramujo aquático e um isópode terrestre.(
FONDANA. et all, 2015.). Os Hospedeiros definitivos
são felinos domésticos ou selvagens.
Os felinos adquirem o parasito após caçarem e ingerirem lagartixas ou lagartos contendo metacercárias encistadas. Então o parasito adulto libera ovos nas vias biliares, então esses ovos operculados são levados junto com a bile para o intestino delgado e logo depois são eliminados para o ambiente junto com as fezes. No ambiente os ovos são ingeridos pelo primeiro hospedeiro intermediário (caramujo), e o miracídio sai pelo opérculo do ovo e penetra no tecido do caracol. Então o miracídio sofre uma maturação que dura aproximadamente 28 dias, tornando-se um esporocisto mãe. Esse esporocisto mãe dão origem a vários esporocistos filhos migratórios, com cercárias em seu interior.
Os esporocistos filhos saem do caracol, e vão para o solo, nessa etapa elas são ingeridos pelo isópodos terrestres onde as cercárias se tornam metacercárias. Por fim as lagartixas ingerem esses isópodos, e as metacercárias permanecem encistadas, na vesícula biliar e ducto biliar desses animais. Esses animais são caçados e ingeridos por felinos, que já tem esse instinto de caça, nesses animais as metacercárias migram e chegam a maturidade sexual em quatro ou cinco semanas. E o ciclo se repete.
Patogênese
Na Platinossomíase, a gravidade da patologia
depende do tempo de infecção e quantidade de parasitos adultos presentes do
felino. Os parásitos habitam o fígado, ductos biliares e vesícula biliar dos
hospedeiros definitivos.
As lesões nestes órgão são causadas durante a migração das metacercárias, principalmente no fígado essa migração causa necrose hepática, nos ductos biliares elas
podem causar obstrução hiperplasia dos ductos e fibrose construtiva decorrente
dos processos inflamatórios causados.
A presença do parasito no trato
biliar ainda pode favorecer infecções bacterianas secundárias, que causam
colangite e abcessos hepáticos, e ainda podem aumentar o risco de
colangiocarcinoma.
Os sinais clínicos podem aparecer ou não dependendo da carga
parasitária, assim como podem ser inespecíficos, como a anorexia, letargia, e
emagrecimento. A icterícia é um sinal importante que pode ser observado em
animais com obstrução biliar.
O diagnóstico de platinossomíase é realizado primeiramente baseado
no histórico do animal e nas manifestações clínicas. É importante durante a
anamnese questionar ao tutor sobre os hábitos do gato, principalmente se ele
caça o hospedeiro intermediário. O diagnóstico definitivo é realizado com a
visualização dos ovos operculados nas fezes, isso se os parasitos não estiverem obstruindo o ducto biliar. Caso ocorra obstrução o diagnóstico
definitivo pode ser obtido pela laparotomia, permitindo a biópsia do fígado e a compressão manual para avaliar a obstrução
biliar (PAULA, 2010).
Os achados hematológicos (aumento de eosinófilos) e bioquímicos (aumento do ALT e FA) também podem contribuir com o diagnóstico, além disso, a bilirrubina sérica também pode estar aumentada. Exames radiográficos e ultrassonográficos, apesar de serem exames inespecíficos para parasitoses, podem contribuir para a avaliação hepática, no exame radiográfico do animal com Platynosomum fastosum pode ser observado hepatomegalia, mas a hepatomegalia também pode ser observada por palpação. Com a ultrassonografia pode ser observada o espessamento da parede da vesícula biliar e alterações no parênquima hepático
Diagnósticos diferenciais
Deve-se diferenciar a platinossomíase de doenças hepáticas felinas, como lipidose hepática, neoplasias hepáticas e peritonite infecciosa felina, além disso o diagnóstico diferencial deve ser feito para outros parasitos encontrados no ductos biliares dos felinos, que também podem causar colangite, colangio-hepatite e distensão do ducto biliar comum. Então é muito importante associar os achados clínicos com os exames laboratoriais para diferenciar a platinossomíase dessas outras doenças.
Tratamento/ Controle/ Profilaxia
O tratamento vai depender da carga parasitária, e
do grau de injúrias que está ocorrendo nos órgãos afetados (fígado e vesícula
biliar). O anti-helminto mais utilizado é o Praziquantel, seu mecanismo de ação
no parasito não é totalmente elucidado, mas acredita-se que ele tem um efeito
sobre o potencial de membrana das células musculares do trematódeo, o que faz com que aumente a
entrada de íons de cálcio na células, o que causa a vacuolização e
desintegração do tegumento do helminto.
Pode ser necessário utilizar antimicrobianos, por causa de
infecções ascendentes que vem do duodeno, causando colangite e
colangio-hepatite, a utilização de antioxidantes como o S- adenosilmetionina pode ser benéfico, devido ao seu efeito como protetor
hepático. E em casos de obstrução do ducto biliar, uma intervenção cirúrgica chamada colecistoduodenostomia, pode ser necessária, para escoar a bile para o trato
gastrintestinal.
Além disso deve-se instituir uma terapia de suporte em gatos, como
a alimentação enteral forçada, que previne a lipidose hepática, e também é importante
corrigir a hidratação.
Para a prevenção, é necessário evitar que o felino entre em
contato com o hospedeiro intermediário, isso é mais fácil para gatos que não
tem acesso a rua, ou a quintais. Caso o gato seja restrito a residência, é
importante evitar a apresença de lagartixas no local. Além disso é importante
administrar medicamentos anti-helmínticos em uma frequência adequada e realizar exames coproparasitológicos periodicamente.
Bibliografia
PAULA, Carolina. Platinosomíase em felinos domésticos: um diferencial para obstrução biliar. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Botucatu, SP, para obtenção do grau de Médico Veterinário.2010. Disponivel em : https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/120431/paula_cl_tcc_botfmvz.pdf?sequen
FONDANA, Luca et al. Relato Do Primeiro Diagnóstico Parasitológico De
Platynosomum, Looss (1907) Em Felino No Estado De Santa Catarina. Amostra
cientifica e tecnológica - campus de Araquari, [s. l.], 8 out. 2015. Disponível em : http://eventos.ifc.edu.br/mctepex/wp-content/uploads/sites/13/2016/03/RELATO-DO-PRIMEIRO-DIAGN%C3%93STICO-PARASITOL%C3%93GICO-DE-Platynosomum-LOOSS-1907-EM-FELINO-NO-ESTADO-DE-SANTA-CATARINA.pdf
LEANDRO, Cleyjefferson do Nascimento. PLATINOSSOMOSE FELINA:
ASPECTOS ETIOLÓGICOS, FISIOPATOLÓGICOS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO. 2018. Monografia
(Grduação em Medicina Veterinária) - Universidade Federal De Campina Grande
Centro De Saúde e Tecnologia Rural Campus De Patos-PB, [S. l.], 2018. Disponível
em:
http://www.cstrold.sti.ufcg.edu.br/grad_med_vet/tcc_2017.2/19_cleyjefferson_do_nascimento.pdf.
Acesso em: 18 out. 2020
Figura 1. Platynosomum fastosum. Disponível em: https://www.veterinaryparasitology.com/platynosomum.html
Figura 2. Ciclo de vida do P. fastosum. Disponível em: http://www.cstrold.sti.ufcg.edu.br/grad_med_vet/tcc_2017.2/19_cleyjefferson_do_nascimento.pdf
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