Platinossomose

em domingo, 18 de outubro de 2020

  Platinossomíase, conhecida popularmente como envenenamento da lagartixa.

 

  A platinossomíase ((PAULA, 2010) ou platinossomose felina (LEANDRO,2018) é uma parasitose de distribuição mundial, entretanto é mais comum em áreas de clima tropical e subtropical. Vários países já relataram a doença, entre eles Malásia, Papua Nova Guiné, Austrália, Havaí, Bahamas, Porto Rico, Brasil, Cuba, Guiana Britânica e Flórida. No Brasil, a parasitose foi relatada em Pernambuco, São Paulo e Mato Grosso do sul, além disso, existem estudos de prevalência em dois estados, Minas Gerais, com prevalência de 40% e Rio de janeiro, com prevalência de 37%. 

Agente Etiológico

O agente etiológico é o Platynosomum spp, que são trematodas, pertencentes a família Dicrocoeliidae. Não há consenso sobre a espécie do gênero Platynosomum que parasita gatos. Tanto o Platynosomum fastosum, quanto o Platynosomum illiciens e Platynosomum concinnum já foram descritos na literatura como parasitas das vias biliares de gatos domésticos. Por isso todas essas espécies podem ser consideradas sinônimo (PAULA, 2010).

Morfologicamente, são parasitos ovóides ou elipsóides e achatados, chegando a no máximo 6,8 mm de comprimento. Seus ovos são marrons, com casca espessa, simétricos e operculados, medindo de  34 a 50 µm de tamanho.


Figura 1. Platynosomum fastosum

 Ciclo de vida

Para falar sobre o ciclo de vida utilizaremos o Platynosomum fastosum como modelo. Precisa-se de três hospedeiros intermediários: um caracol da terra (Subulina octona), um isópode terrestre (besouros ou percevejos) e por fim lagartixas ou sapos (SILVA et all, 2008). Além disso, alguns hospedeiros erráticos como pássaros insetívoros podem eventualmente participar do ciclo. É importante ressaltar que dependendo a espécie de Platynosomum são necessários dois hospedeiros intermediários, sendo um caramujo aquático e um isópode terrestre.( FONDANA. et all, 2015.). Os Hospedeiros definitivos são felinos domésticos ou selvagens.

Os felinos adquirem o parasito após caçarem e ingerirem lagartixas ou lagartos contendo metacercárias encistadas. Então o parasito adulto libera ovos nas vias biliares, então esses ovos operculados são levados junto com a bile para o intestino delgado e logo depois são eliminados para o ambiente junto com as fezes. No ambiente os ovos são ingeridos pelo primeiro hospedeiro intermediário (caramujo), e o miracídio sai pelo opérculo do ovo e penetra no tecido do caracol. Então o miracídio sofre uma maturação que dura aproximadamente 28 dias, tornando-se um esporocisto mãe. Esse esporocisto mãe dão origem a vários esporocistos filhos migratórios, com cercárias em seu interior.

Os esporocistos filhos saem do caracol, e vão para o solo, nessa etapa elas são ingeridos pelo isópodos terrestres onde as cercárias se tornam metacercárias. Por fim as lagartixas ingerem esses isópodos, e as metacercárias permanecem encistadas, na vesícula biliar e ducto biliar desses animais. Esses animais são caçados e ingeridos por felinos, que já tem esse instinto de caça, nesses animais as metacercárias migram e chegam a maturidade sexual em quatro ou cinco semanas. E o ciclo se repete.


Figura 2. Ciclo de vida do P. fastosum.


Patogênese 

 Na Platinossomíase, a gravidade da patologia depende do tempo de infecção e quantidade de parasitos adultos presentes do felino. Os parásitos habitam o fígado, ductos biliares e vesícula biliar dos hospedeiros definitivos.

As lesões nestes órgão são causadas durante a migração das metacercárias, principalmente no fígado essa migração causa  necrose hepática, nos ductos biliares elas podem causar obstrução hiperplasia dos ductos e fibrose construtiva decorrente dos processos inflamatórios causados.

A presença do parasito no trato biliar ainda pode favorecer infecções bacterianas secundárias, que causam colangite e abcessos hepáticos, e ainda podem aumentar o risco de colangiocarcinoma.

Os sinais clínicos podem aparecer ou não dependendo da carga parasitária, assim como podem ser inespecíficos, como a anorexia, letargia, e emagrecimento. A icterícia é um sinal importante que pode ser observado em animais com obstrução biliar.

 Diagnóstico

O diagnóstico de platinossomíase é realizado primeiramente baseado no histórico do animal e nas manifestações clínicas. É importante durante a anamnese questionar ao tutor sobre os hábitos do gato, principalmente se ele caça o hospedeiro intermediário. O diagnóstico definitivo é realizado com a visualização dos ovos operculados nas fezes, isso se os parasitos não estiverem obstruindo o ducto biliar. Caso ocorra obstrução o diagnóstico definitivo pode ser obtido pela laparotomia, permitindo a biópsia do fígado e a compressão manual para avaliar a obstrução biliar (PAULA, 2010).

Os achados hematológicos (aumento de eosinófilos) e bioquímicos (aumento do ALT e FA) também podem contribuir com o diagnóstico, além disso, a bilirrubina sérica também pode estar aumentada. Exames radiográficos e ultrassonográficos, apesar de serem exames inespecíficos para parasitoses, podem contribuir para a avaliação hepática, no exame radiográfico do animal com Platynosomum fastosum pode ser observado hepatomegalia, mas a hepatomegalia também pode ser observada por palpação. Com a ultrassonografia pode ser observada o espessamento da parede da vesícula biliar e alterações no parênquima hepático

Diagnósticos diferenciais

Deve-se diferenciar a platinossomíase de doenças hepáticas felinas, como lipidose hepática, neoplasias hepáticas e peritonite infecciosa felina, além disso o diagnóstico diferencial deve ser feito para outros parasitos encontrados no ductos biliares dos felinos, que também podem causar colangite, colangio-hepatite e distensão do ducto biliar comum. Então é muito importante associar os achados clínicos com os exames laboratoriais para diferenciar a platinossomíase dessas outras doenças. 

 Tratamento/ Controle/ Profilaxia

 O tratamento vai depender da carga parasitária, e do grau de injúrias que está ocorrendo nos órgãos afetados (fígado e vesícula biliar). O anti-helminto mais utilizado é o Praziquantel, seu mecanismo de ação no parasito não é totalmente elucidado, mas acredita-se que ele tem um efeito sobre o potencial de membrana das células musculares do trematódeo, o que faz com que aumente a entrada de íons de cálcio na células, o que causa a vacuolização e desintegração do tegumento do helminto.

Pode ser necessário utilizar antimicrobianos, por causa de infecções ascendentes que vem do duodeno, causando colangite e colangio-hepatite, a utilização de antioxidantes como o S- adenosilmetionina pode ser benéfico, devido ao seu efeito como protetor hepático. E em casos de obstrução do ducto biliar, uma intervenção cirúrgica chamada colecistoduodenostomia, pode ser necessária, para escoar a bile para o trato gastrintestinal.

Além disso deve-se instituir uma terapia de suporte em gatos, como a alimentação enteral forçada, que previne a lipidose hepática, e também é importante corrigir a hidratação.

Para a prevenção, é necessário evitar que o felino entre em contato com o hospedeiro intermediário, isso é mais fácil para gatos que não tem acesso a rua, ou a quintais. Caso o gato seja restrito a residência, é importante evitar a apresença de lagartixas no local. Além disso é importante administrar medicamentos anti-helmínticos em uma frequência adequada e realizar exames coproparasitológicos periodicamente.

 Bibliografia

PAULA, Carolina. Platinosomíase em felinos domésticos: um diferencial para obstrução biliar. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Botucatu, SP, para obtenção do grau de Médico Veterinário.2010. Disponivel em : https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/120431/paula_cl_tcc_botfmvz.pdf?sequen

FONDANA, Luca et al. Relato Do Primeiro Diagnóstico Parasitológico De Platynosomum, Looss (1907) Em Felino No Estado De Santa Catarina. Amostra cientifica e tecnológica - campus de Araquari, [s. l.], 8 out. 2015. Disponível em : http://eventos.ifc.edu.br/mctepex/wp-content/uploads/sites/13/2016/03/RELATO-DO-PRIMEIRO-DIAGN%C3%93STICO-PARASITOL%C3%93GICO-DE-Platynosomum-LOOSS-1907-EM-FELINO-NO-ESTADO-DE-SANTA-CATARINA.pdf

LEANDRO, Cleyjefferson do Nascimento. PLATINOSSOMOSE FELINA: ASPECTOS ETIOLÓGICOS, FISIOPATOLÓGICOS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO. 2018. Monografia (Grduação em Medicina Veterinária) - Universidade Federal De Campina Grande Centro De Saúde e Tecnologia Rural Campus De Patos-PB, [S. l.], 2018. Disponível em: http://www.cstrold.sti.ufcg.edu.br/grad_med_vet/tcc_2017.2/19_cleyjefferson_do_nascimento.pdf. Acesso em: 18 out. 2020

Figura 1. Platynosomum fastosum. Disponível em: https://www.veterinaryparasitology.com/platynosomum.html

Figura 2. Ciclo de vida do P. fastosum. Disponível em: http://www.cstrold.sti.ufcg.edu.br/grad_med_vet/tcc_2017.2/19_cleyjefferson_do_nascimento.pdf


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