Eimerioses e Isosporoses

em sexta-feira, 16 de outubro de 2020


Definição
São doenças parasitárias que acometem os intestinos de animais domésticos provocadas por protozoários da classe Coccidea, são eles os Coccídeos da família Eimeriidae. Podem causar altos prejuízos produtivos por terem altas taxas de morbidade e uma letalidade que pode chegar a 100% no caso das eimerioses aviárias.

Figura 1. Estrutura celular e molecular de um coccídeo na fase de Taquizoíto.


Importância
Essas doenças apresentam grande importância quanto aos animais de produção, a sua patogenia depende de fatores como a quantidade de oocistos (ovos) ingeridos, a idade do animal (sendo os mais jovens mais suscetíveis), estado nutricional do animal, se este se encontrar subnutrido está mais suscetível e a presença de outras doenças.

Agente etiológico
Os agentes etiológicos responsáveis são os coccídeos do filo apicomplexa, um tipo de protozoários que apresentam um complexo de estruturas na sua extremidade apical que os permitem invadir as células intestinais do hospedeiro, entre eles os de grande relevância veterinária: 
Gênero Eimeria: 
Eimeria tenella: espécie mais patogênica do gênero, infecta os cecos das aves (Gallus gallus), principalmente frangos de corte. 
Eimeria bovis: espécie considerada uma das mais patogênicas do gênero que infecta bovinos, está bastante difundida pelo mundo
Gênero Isospora:
Isospora sp. as espécies de Isospora têm aves, principalmente passeriformes, como hospedeiros.


Ciclo de vida dos parasitos 
O ciclo evolutivo compreende três fases: esporulação, infecção e merogônia (esquizogônia) e, por fim, gametogônia e formação de oocistos, como representado pelo ciclo evolutivo do gênero Eimeria.

Esporulação: Oocistos não esporulados, consistindo em massa nucleada de protoplasma circundada por uma parede resistente, são excretados nas fezes. Em condições apropriadas de oxigenação, umidade elevada e temperatura ideal, ao redor de 27°C, o núcleo se divide e a massa protoplasmática forma  corpúsculos cônicos que se irradiam a partir da massa central denominados esporocistos, enquanto o protoplasma destro desses es divide em esporozoítas com um forma de bananas. O oocisto, agora constituído de uma parede externa que circunda os esporocistos e cada um contendo esporozoítas, é denominado oocisto esporulado; é o estágio infectante.
Eimeira spp. apresenta oocisto esporulado tetraspórico e dizoico: há quatro esporocistos contendo dois esporozoítos no interior de cada um. (4x2);
Isospora spp. apresenta o oocisto esporulado dispórico tetrazoico: (2x4).

Figura 2. Esquema representando o ciclo monoxeno das espécies do gênero Eimeria. As etapas proliferativa e de diferenciação (merogonia e gametogonia, respectivamente) ocorrem no epitélio intestinal do hospedeiro, enquanto a esporogonia é exógena. A infecção é oral, por meio da ingestão dos oocistos esporulados.

Infecção e merogônia
: O hospedeiro se infecta após a ingestão de oocisto esporulado. Em seguida, os esporocistos são liberados, mecanicamente ou pelo dióxido de carbono, e os esporozoítas, ativados pela tripsina e pela bile, deixam o esporocisto. Na maioria das espécies, cada esporozoíta penetra em uma célula epitelial, se ajuntam, e, então, é denominado trofozoíta. Após alguns dias, cada trofozoíta sofre múltiplas divisões para formar um meronte (esquizonte), uma estrutura composta de grande número de microrganismos nucleados alongados denominados merozoítas. Quando a divisão se completa e o meronte amadurece, a célula hospedeira e o meronte se rompem e as merozoítas escapam e invadem as células vizinhas. Merogonia pode repetir-se e o número de gerações de meronte dependerá da espécie.

 

Gametogônia e formação do oocisto: A merogonia termina quando as merozoítas originam gametócitos masculinos e femininos. Os fatores responsáveis por esta mudança para gametogonia não são totalmente conhecidos. Os macrogametócitos são fêmeas e permanecem unicelulares, porém o seu tamanho aumenta para preencher a célula parasitada. Podem ser diferenciados de trofozoítas ou de merontes em desenvolvimento pelo fato de que apresentam um único núcleo grande. Cada microgametócito, macho, sofre repetidas divisões para formar uma grande quantidade de microrganismos uninucleados flagelados, os microgametas. É apenas durante esta breve fase que os coccídios possuem órgãos de locomoção. Os microgametas são liberados após a ruptura da célula hospedeira, penetra em um macrogameta e, em seguida, ocorre a fusão do núcleo do microgameta com o núcleo do macrogameta. Uma parede cística se forma ao redor do zigoto resultante, agora denominado oocisto, e não há qualquer crescimento adicional até que este oocisto não esporulado seja liberado do corpo, nas fezes.


Figura 3 Ciclo evolutivo de Eimeria.


As infecções por coccídios são consideradas autolimitantes, já que as merogonias ocorrem em número limitado e que, ao final dessa etapa, os merozoítos seguem para diferenciação, singamia e, finalmente, liberação dos oocistos para o ambiente junto com as fezes do hospedeiro.






Patogênese 
Esses coccídios destroem as células intestinais, causando diarreia sanguinolenta; assim, acarretam diminuição da resistência orgânica, baixa conversão alimentar e perda de peso, o que predispõe os animais à infecção bacteriana secundária. Nos hospedeiros, esses protozoários causam doenças típicas de filhotes, com diarreia, perda de peso e, em casos graves, óbito.

Figura 4. Ceco, tiflite necro-hemorrágica difusa acentuada associada a Eimeria tenella, cecos apresentando lesões hemorrágicas (petéquias), frango de corte, macho, 15 dias.

Figura 5. Ceco, tiflite necro-hemorrágica eosinofílica e linfocítica difusa acentuada associada a Eimeria tenella, esquizontes com tamanho característico da espécie E. tenella (0,0516 milímetros ou 51,6 micrômetros) associados a área contendo sangue fora dos vasos (hemorragia), frango de corte, macho, 15 dias.


Diagnóstico
O Diagnóstico é baseado na observação dos sintomas levando em consideração fatores como idade do animal, as práticas de manejo e condições ambientais. O exame parasitológico de fezes, por flutuação, permite a identificação de oocistos e sua quantidade que é informativa quanto a intensidade da infecção e da contaminação ambiental, além disso pode ser fornecido ao occisto isolado um meio de cultura para que esse possa esporular e portanto diferenciar o coccideo quanto ao gênero (Eimeria com 4 esporocistos e Isospora com 2) porém, segundo Taylor, 2012  Não é possível o diagnóstico seguro da espécie com base na morfologia do oocisto, pois as dimensões e outras características são semelhantes entre as espécies.

Figura 6. Oocistos de Eimeria sp. em solução saturada de açúcar (aumento de 40X).
Oocisto não esporulado (1); oocisto esporulado (2), em que é possível visualizar os quatro
esporocistos. Observa-se a parede de dupla membrana do oocisto, cuja superfície é lisa.


Epidemiologia
Os animais assintomáticos mantêm a contaminação ambiental por meio da eliminação de oocistos em suas fezes e aqueles que sobrevivem à parasitose muitas vezes se tornam antieconômicos, devido à síndrome de má absorção. A criação de milhares de aves em pisos revestidos com cama, em granjas enormes, pode resultar em enorme e perigoso acúmulo de oocistos. De qualquer maneira, a infecção que ocasiona a ocorrência de surtos da doença é, em grande parte, determinada pelo número de oocistos, aos quais estas aves são expostas. No entanto, a ocorrência de graves surtos de coccidiose clínica, com alta taxa de mortalidade, é uma condição altamente excepcional em granjas avícolas modernas, em razão do monitoramento rigoroso e das medidas de controle empregadas.

Tratamento e controle

Figura 7. Modelo de ranja de frangos de corte com
 instalações, manejo alimentar, ventilação e superfície
sem acúmulo de sujidades 

Compostos anticcocídicos, como lasolocida, monensina, etc, podem ser utilizados como profiláticos, por meio sua adição ao alimento, nas primeiras 12 a 16 semanas de vida. A higiene é básica na prevenção de quaisquer infecções. A prática de bom manejo zootécnico, que inclui boa alimentação e o respeito à lotação animal, é fundamental
As instalações devem ser bem ventiladas para diminuir a umidade local e, quando houver o uso de cama, esta deve ser mantida sempre seca. É importante também separar os animais por faixa etária e estádio de produção, visto que os adultos são a principal fonte de infecção para os jovens
Os comedouros e bebedouros devem ser limpos diariamente e colocados de maneira a evitar que os animais defequem no seu interior.


Referências bibliográficas:  

Textuais:
L., TAYLOR, M. A.; COOP, R. L.; WALL, R. Parasitologia Veterinária, 4ª edição. Grupo GEN, 2017;

Gonzalez, MONTEIRO, S. Parasitologia na Medicina Veterinária, 2ª edição. Grupo GEN, 2017. 

Figuras:
1. Filo Apicomplexa - Base Resumos Biológicos. Disponívem em: https://baseresumosbiologicos.blogspot.com/2012/08/apicomplexa-plasmodium-vivax.html

2Gonzalez, MONTEIRO, S. Parasitologia na Medicina Veterinária, 2ª edição

3L., TAYLOR, M. A.; COOP, R. L.; WALL, R. Parasitologia Veterinária, 4ª edição

4. UFSC, PATOLOGIA VETERINARIA- Coccidiose por Eimeria tenella em frango de corte
17/07/2019 Disponívem em https://patologiaveterinaria.paginas.ufsc.br/2019/07/17/coccidiose-por-eimeria-tenella-em-frango-de-corte/

5. UFSC, PATOLOGIA VETERINARIA- Coccidiose por Eimeria tenella em frango de corte
17/07/2019 Disponívem em https://patologiaveterinaria.paginas.ufsc.br/2019/07/17/coccidiose-por-eimeria-tenella-em-frango-de-corte/

6Gonzalez, MONTEIRO, S. Parasitologia na Medicina Veterinária, 2ª edição.

7. Dicas para sua granja de frango de corte por arcotherm | nov 22, 2017 Disponível  em https://arcotherm.com.br/granja-de-frango-de-corte/



Nenhum comentário:

Postar um comentário